"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 20 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

RENATA BELMONTE NA LEGIÃO

Como se não houvesse amanhã – coletânea de contos inspirados em 20 canções da Legião Urbana, organizada por Henrique Rodrigues. Cada autor pôde escolher uma música e, no fim, todos os discos foram contemplados na obra. Em alguns casos, o contista usa a música como trilha sonora para uma história; em outros (maioria), a letra é recontada por meio de uma nova ação. Infelizmente, a diversidade incorreu não apenas na narrativa, mas na qualidade dos textos. Enquanto alguns se destacam pela criatividade e fuga do óbvio, como “Tempo perdido” (de Tatiana Salem Levy) e “Por enquanto” (de Renata Belmonte), outros pecam pela ingenuidade ou por serem meros exercícios de demonstração de riqueza vocabular. Em comum, entre todos, um cheiro de perda, dor e tristeza. Astros predominantes no universo de Renato Russo.

por RAPHAEL PERRET, na Butuca Ligada.

domingo, 16 de maio de 2010

AS IDEIAS DE ROBERT BRESSON

"É preciso que uma imagem se transforme no contato com outras imagens, como uma cor no contato com outras cores. Um azul não é o mesmo azul ao lado de um verde, de um amarelo, de um vermelho. Não há arte sem transformação."

"Criar não é deformar ou inventar pessoas e coisas. É estabelecer entre pessoas e coisas que existem, e tais como elas existem, novas relações."

"Em toda arte existe um princípio diabólico que age contra ela e tenta demoli-la."

"Nem realizador, nem cineasta. Esqueça que você faz um filme."

"Não filmar para ilustrar uma tese, nem para mostrar homens e mulheres limitados a seu aspecto exterior, mas para descobrir a matéria da qual eles são feitos. Atingir esse 'coração do coração' que não se deixa captar nem pela poesia, nem pela filosofia, nem pela dramaturgia."

"Nade de excesso, nada que falte."

"O cinema sonoro inventou o silêncio."

"Aproximar as coisas que ainda jamais foram aproximadas e não pareciam dispostas a ser."

"Uma coisa errada, se você mudá-la de lugar, pode ser uma coisa bem-sucedida."

"Desmontar e remontar até a intensidade."

"Não pense no seu filme além dos meios que você criou para você."

"Seja o primeiro a ver o que você vê como você o vê."

"Remeter o passado ao presente. Magia do presente."

"Uma coisa velha se torna nova se você a destaca do que a cerca habitualmente."

ROBERT BRESSON (1907-1999), cineasta francês de renome, tinha um estilo único de filmar e filmava incansavelmente à sua maneira, sem se trair nunca. Foi também um teórico do cinema, com ideias próprias que influenciam artistas até hoje, e não somente do meio. É importante perceber que as reflexões acima podem ser direcionadas, por exemplo, à criação literária, especialmente a prosa. Entre seus filmes mais célebres estão: Pickpocket (1959), O processo Joana D'Arc (1962) e O dinheiro (1983). Trechos extraídos de Notas sobre o cinematógrafo (Iluminuras, 2005), de autoria de Bresson.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

(NÃO) SAIU NA IMPRENSA, (AINDA)

Nem mesmo os passarinhos tristes
Autor: Mayrant Gallo
Editora: Multifoco (RJ)
Páginas: 150
Valor: R$30,00

Um livro de minicontos. Histórias breves, rápidas, poéticas. Algumas não vão além de uma linha, outras cobrem uma página inteira. Registro lírico, sarcasmo, ironia, crueldade, humor. Há de tudo um pouco. E, em tempo de Copa do Mundo, eis uma visão nada otimista do país do futebol:

“Quando o sol chegou a pino, e os jogadores abandonaram o campo, entraram os três cavalos e, com os rabos abanando, se dispuseram a devorar o resto”. (ANIMAIS).

Embora muitos acreditem que o miniconto é um gênero recente, não é. No mundo árabe, o miniconto é arte literária há pelo menos mil anos, e talvez o primeiro livro de minicontos do Ocidente tenha mais de um século: Histórias naturais, do francês Jules Renard, de 1896. No Brasil, ganhou impulso nas duas últimas décadas e virou febre, moda, onda, como queiram chamar, e tem em Dalton Trevisan o seu maior cultor. Kafka, Cortázar e Brecht também se exercitaram no miniconto.

Em Mayrant Gallo, que costuma ressaltar a superioridade da poesia sobre a prosa, as historietas cunham uma linguagem que forçosamente, para segurar o leitor, mescla as duas formas, confundindo-as:

“Um homem queria evitar o vinho, ir além, vencer, contornar as ruínas... Mas tudo o que conseguiu foram três filhas.” (PASSAPORTE FALSO)

Ou neste enigmático PÔQUER: “As mãos que guardavam o baralho eram a mesmas que lascaram o lacre e distribuíram as cartas.”

Como afirma o escritor Carlos Ribeiro, na orelha do volume, “Mayrant Gallo tem nas entrelinhas a sua grande vocação”. Diz e diz um pouco mais sem dizer. Que o leitor se alimente. Ou se intrigue.


UM JORNAL QUALQUER

sexta-feira, 7 de maio de 2010

PASSARINHOS E MACROMUNDO


NEM MESMO OS PASSARINHOS TRISTES, Mayrant Gallo
&
MACROMUNDO, Wladimir Cazé

Na única livraria de verdade da cidade!

22 de maio, 2010
De 10 a 14 horas

LDM LIVRARIA MULTICAMPI
Rua Direita da Piedade, 20, Piedade
Salvador, BA

Apareça!


Uma coprodução Multifoco,
Confraria do Vento
& LDM Livraria Multicampi.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010

VÁ E VEJA, 7: HELL

"A maioria das pessoas é outra pessoa. Seus pensamentos são as opiniões de outra pessoa, suas vidas uma mímica, suas paixões uma citação." (OSCAR WILDE)

Esta é, ironicamente, uma citação perfeita para se assistir a Hell (2009), de Bruno Chiche, baseado no livro de Lolita Pille, que assina com ele o roteiro.

O cenário é a Paris contemporânea. O assunto, o tédio. Os protagonistas, os jovens burgueses destituídos de sonhos, pois têm tudo e, assim, só lhes resta trepar e se drogar, não importa com quem nem como.

O foco narrativo acompanha o dia a dia de Hell, filha única de um casamento esfacelado. Entremeados na trama, há aspectos que esclarecem e definem a psicologia da personagem, como a cena em que, ao chegar tarde da noite em casa e encontrar a mãe ainda acordada, ela pergunta: "Esperando por mim?" "Não, pelo seu pai."

Hell também se autodefine, niilisticamente. Quando um cara que ela acabou de conhecer lhe pergunta, num bar, o que ela faz além de chorar nas ruas (referência a uma cena anterior, primeiro encontro de ambos) e beber nos bares, ela responde: "Também choro nos bares".

Uma das chaves do filme está na sequência em que Hell, convocada a dar uma canja vocal num bar, canta uma cantiga infantil, como se fosse uma garotinha, os olhos marejados:

Era uma vez um barquinho
Que nun, nun, nunca navegou
Oê, oê; oê, oê, marinheiro
Marinheiro navega sobre as ondas.

Ele fez uma longa viagem
No mar Me, Me, Mediterrâneo
Oê, oê; oê, oê, marinheiro
Marinheiro navega sobre as ondas.

O resto é noite, cidade, sexo e cocaína. O espírito noir foi no passado uma exclusividade de seres à margem e envolvidos em crimes. Hoje é a própria vida, comum e cotidiana.

Mas o que isso tem a ver com a citação de Wilde? Bem, fica evidente no filme que Hell não consegue ser ela própria. Desprezada pelos pais e sufocada pelo mundo, ela só pode ser outra pessoa, o modelo fútil e vazio que está à sua volta. O modelo que o dinheiro, combustível em profusão, move em direção ao sexo fácil e sem sentimentos, à cocaína como refúgio e aos atos gratuitos, esboços tênues de uma individualidade perdida.

sábado, 1 de maio de 2010

GRADATIVA EXCLUSÃO DA LITERATURA

Aquilo que o Governo chama "cultura" é o que usualmente chamamos Arte: Literatura, Música, Pintura, Escultura, Arquitetura, Teatro, Fotografia, Dança, Cinema, Quadrinhos. Há ainda a "arte popular", com suas manifestações peculiares, suas circunstâncias regionais específicas e suas escolhas estéticas, do mais simples ao mais complexo.

E é por isso que me espantei de ver que, na capa da Nova Lei da Cultura: material informativo sobre o projeto de lei que cria o programa nacional de fomento e incentivo à cultura, não se representa a Literatura. Ora, a literatura, como manifestação artística (ou, se preferirem, cultural), é tão antiga quanto o homem. Nasceu nas paredes das cavernas, com as pinturas rupestres, que são, grosso modo, narrativa e poesia, as duas essências básicas da literatura. Posteriormente, os "desenhos" se transformaram em palavras, frases, textos, os gêneros literários como os conhecemos hoje: poesia, conto, romance etc.

A ausência da Literatura ali será uma exclusão entre tantas inclusões? Talvez sim e talvez não, pois, dentro do livreto da Nova Lei, há uma referência discreta à Literatura, na seção em que se mencionam os novos fundos setoriais: Fundo setorial do livro, leitura, literatura e humanidades. Pouco, porém. Muito pouco. E imprensada entre pesos pesados da tão badalada "economia da cultura".

É inevitável, portanto, que eu me lembre de T. S. Eliot, quando ele afirma que uma sociedade que não lê literatura tende a decair e desaparecer. Sem dúvida, pois de que outro modo poderemos refinar nosso pensamento, se não através da poesia e das narrativas, que, quanto mais elevadas, mais benéficas ao homem, mais "educativas", mais libertadoras? Garanto que não será através do jornalismo-verdade. E é ainda T. S. Eliot quem diz que não devemos descer a arte ao nível do povo, mas elevar o povo ao nível da arte.

Essa é uma proposta ousada, que faz da Arte e da Educação uma coisa só. Sem uma, a outra não existe ou existe parcialmente. Quanto à Cultura, ela sempre existirá, pois meu sapato é cultura, um gesto é cultura, uma lata de lixo é cultura. Mas só a Arte é Arte.

Por isso sempre defendi que o ministério deveria ser esse: Ministério da Educação e das Artes. Enquanto não for assim não conseguiremos nos "elevar". Continuaremos a ser essa sociedade que rasteja.