"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

LEITURAS 37: CONTOS DE NATAL

Ilustração: Rogério Borges. 
Abri ontem o volume Os melhores contos de Natal (Círculo do Livro, 1988) e reli alguns dos mais tocantes contos de natalinos já escritos. Estão lá autores como Charles Dickens, Guy de Maupassant, Machado de Assis, Jack London, Górki, O. Henry, Hawthorne, Bret Hart e Robert Louis Stevenson. Os contos são realmente os mais clássicos do gênero, mas há algumas surpresas, como o sensível relato A lenda da casa número 15, da autora da extinta Iugoslávia, de idioma servo-croata, Ida Fürst, e O pároco, do brasileiro Coelho Neto, hoje esquecido e odiado, por seu estilo, considerado por muitos excessivo e empolado. Bem, quem vier a ler O pároco não vai achar nada disso e sairá do conto entusiasmado para ler outras obras do autor. Sabemos, de há muito, o quanto os brasileiros amam diminuir e até destruir gratuitamente seus artistas e heróis, e não seria nenhum disparate se algum leitor, aqui despertado, descobrisse que Coelho Neto tem valor e ainda é legível e atual.
 
Há contos magistrais neste livro, que forma, em parte e no todo, um espectro profuso e variado de vozes e cores, no qual teses pró e contra o Natal emergem, elevando este acontecimento e impondo aos leitores horas de prazer e proveito. Missa do Galo, Cântico de Natal, Como Papai Noel chegou a Simpson's Bar, Sonho de uma noite de Natal, Natal no rancho e Markheim são, talvez, os mais famosos. Todos, porém, deixam sua contribuição tanto para uma compreensão mais profunda do Natal quanto da vida, espécie de contraponto ao que se espera da noite natalina. Neste aspecto, um dos melhores contos é, sem dúvida, o de Górki, pois, em sonho, seus personagens natalinos, quase todos pobres e tristes, voltam para lhe cobrar que seja menos cruel, pois a vida já o é, suficientemente. Um dos personagens lança-lhe na cara esta prédica: "Por que escreveu essas coisas? Para que vive inventando essas desgraças, essas tristezas? Que pretende com isso? Desfazer o que resta de fé e esperança no coração dos homens? Tirar-lhes a confiança na redenção, mostrando-lhes somente o mal? Aniquilar o desejo de viver, apresentando a existência como um suplício sem fim e sem remédio?" O narrador, estarrecido, mal consegue balbuciar uma defesa, alegando que é o que fazem todos os escritores, imaginam "cenas bem tristes, bem tocantes, para despertar", em seus leitores, "sentimentos compassivos, abrir os corações à piedade".
 
Metalinguístico e, ao mesmo tempo, um belo relato natalino, este conto ironiza com o encarceramento dos autores aos gêneros, sugere que precisam ser mais ousados e admite que, aqui e ali, os personagens tomam as rédeas das criações literárias e, à revelia do autor, abrem e fecham portas. Ao findar sua leitura, me lembrei do que me disse, recentemente, uma jovem leitora a quem perguntei sobre suas leituras de Máximo Górki. Ela simplesmente me disse que deixou de ler Górki, porque leu em algum lugar que ele escrevia mal. Mal ou aquém ou além do gosto e da capacidade de compreensão de quem o leu e criticou? É o mistério.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

POEMA DE NATAL

Foto: A. Café-Gallo.
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje à noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980). Poeta cujo centenário comemorou-se este ano e um dos mais originais de língua portuguesa. Profundo, lírico, grave. Infelizmente, a propensão à música, criando melodias e letras hoje gravadas no imaginário dos brasileiros, ofuscou a sua poesia. 

sábado, 21 de dezembro de 2013

NATAL CONSCIENTE E VERDADEIRO





Publicado com a permissão de SPACCA, a quem agradecemos a cessão.

PRÉ-VENDA DE "NICOLAU & RICARDO"

DESCONFIANÇA

Ricardo entra na sala e diz a Nicolau:
"Nosso livro já está em pré-venda!"
Nicolau mal levanta os olhos do relatório que está redigindo:
"Verdade?"
"É. Vou comprar logo meu exemplar."
Nicolau ergue a cabeça, encara o colega:
"Mas não estamos ali, não vivemos aquilo tudo, cada aventura?"
"Sim, claro! Mas posso esquecer..."

Garanta também o seu exemplar. Tiragem limitada. Clique aqui.


 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

LEITURAS 36: ESQUECER O NATAL

Capa da 3. edição americana.
Há os que odeiam Natal. E há os que o adoram. Aqueles tudo fazem para se manter alheios, e os outros não se importam nem um pouco de seguir cegamente seu obsessivo fluxo de compras e ornamentação. É neste dilema que se insere a original novelinha Esquecer o Natal (Skipping Christmas, 2001), de John Grisham. Motivado pela viagem da filha única, que vai passar um ano no Peru, o casal Krunk decide pular o Natal e fazer um cruzeiro pelo Caribe. Mar, sol, calor, praia. Simples. Mas eles não contavam com a reação dos vizinhos, que veem naquela decisão um claro e inadmissível desdém pelo Natal. A história, portanto, vai sofrer grandes reviravoltas. Famoso internacionalmente por suas narrativas de tribunais, Grisham obtém com esta novela algo raro no gênero: reflete sobre o Natal, critica tanto os seus adeptos quanto seus reatores e ainda evoca, dentro de uma tradição que vem de Charles Dickens, a essência do seu espírito, laico ou religioso: a solidariedade e o respeito à vida.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

LABIRINTO-HOMEM

Metalinguístico, engraçado, labiríntico. O novo livro de Carlos Vilarinho, seu primeiro romance, amplia o arco de inquietações que seus contos já sugeriam e propõe que a literatura não é diferente da vida, e que a experiência obtida em uma antecipa a outra. Tive a honra de ser convidado para escrever a orelha e reconheço que foi um prazer mergulhar na mitologia urbana do autor. Sou daqueles leitores que esperam de um livro o seu oposto, tanto em assunto e sujeito quanto em estilo e forma; e o romance de Vilarinho aguçou o meu olhar no que diz respeito à cidade e aos seus indivíduos. Não conhece Salvador a fundo e em detalhes quem ainda não passou pelo filtro que Vilarinho arquitetou.

sábado, 30 de novembro de 2013

IRMANDADE CONTRA OS LIVROS

Ao Sr. Albino Rubim, Secretário de Cultura, que odeia livros e tudo fez (e faz) para transformar a maior biblioteca pública do Estado da Bahia, nos Barris, em centro de cultura, com suas manifestações artísticas de gosto duvidoso e, não raro, barulhentas, e ao Sr. Aurélio Schommer, conselheiro de cultura, que decretou, há três anos, o fim do livro, ironicamente oferecemos o parágrafo de JOHN FANTE a seguir, frisando que se enganam aqueles que acham que estas duas personalidades são democráticas e querem o melhor para a nossa sociedade. Em surdina, com atos e falas, eles vão retirando do alcance das pessoas o mais avassalador objeto de conhecimento e transformação que qualquer indivíduo pode ter em mãos: O LIVRO. Cargos públicos são política, escadaria para o céu, e estes dois alimentam, sim, ambições maiores, as quais só poderemos deter se ficarmos atentos, na hora das urnas. Não podemos esquecer que o mal reside nos detalhes, e que, obviamente, não devemos colaborar com ele. Um secretário de cultura que chegou a cogitar não realizar a Bienal do Livro da Bahia 2013 não pode mesmo ter a cabeça no lugar, a não ser na hora passar xampu. E agora, FANTE:

"Como Paulo, que teve seu momento de verdade diante de Damasco, também Henry Molise tivera seu fragmento de êxtase 25 anos antes na Biblioteca Pública de San Elmo. Encostei ao lado do gracioso edifício, subi os degraus de arenito que meu pai tinha construído com suas próprias mãos e segui com passos firmes ao longo de um corredor de estantes até aquele local familiar, na quina junto à janela perto do apontador de lápis, debaixo do retrato de Mark Twain, e puxei o exemplar encadernado em couro de Os irmãos Karamazov. Segurei-o em minhas mãos, folheei as páginas, agarrei-o com força entre meus braços, minha vida, minha alegria, meu sublime Dostoievski. Posso ter falhado com ele em meus atos, mas nunca em minha devoção. Meu querido Papa se fora, mas Fiodor Mikhailovich me acompanharia até o fim da vida". (Em A irmandade da uva, José Olympio, 2013)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A IRMANDADE DOS ERROS

Capa: Sérgio Liuzzi.
Foi o escritor Dênisson Padilha Filho quem me avisou que o romance A irmandade da uva tinha sido publicado no Brasil, em maio deste ano, pela José Olympio Editora. Eu me valia até então da edição da espanhola Editorial Anagrama, de 2004. Belíssima, a propósito. Um livro impecável. Não podemos dizer o mesmo desta edição da saudosa José Olympio. Primeiramente, deve-se esclarecer que a José Olympio é hoje um cômodo do Grupo Record. Não lembra em nada a grande editora que foi, com a sua magistral coleção Sagarana, que reunia grandes autores brasileiros, como José Lins do Rego, José Cândido de Carvalho, Guimarães Rosa, Cyro dos Anjos, Antônio Olavo Pereira, Dinah Silveira de Queiroz e tantos outros. E que estampava os mais generosos textos de colofão já escritos no Brasil, lembrando os aniversários de eminentes personalidades do conhecimento e das artes, brasileiros e estrangeiros.

Meu primeiro problema com esta edição do romance de Fante pela José Olympio começou na página 30, com a nota, que aqui transcrevo: "Fante errava muito na ortografia italiana. No caso, o correto é 'paesani' (N. do T.)". Ora, toda esta pose só porque aparece no texto a forma "paisani". Que deselegante! E que desperdício de forças e ideias! Parece, de fato, que, em geral, nós, brasileiros, adoramos desmitificar quem quer que seja, de escritores a expoentes da música popular. Detestamos os bem-sucedidos, odiamos os supostos heróis. Na edição espanhola, que prescinde de nota, aparece tão somente, também à página 30, a forma "paisanos". Simples, direta, elegante. Mas aqui, no Brasil, precisamos, em favor de um preciosismo de tradução, transcrever a forma original em italiano, pôr nota, grifar que houve erro do autor e sermos grosseiros.
 
Daí por diante, minha leitura, que é sempre atenta a tudo, não perdoou os responsáveis por trazer este livro de Fante para o nosso idioma. Na página 63, encontramos: "Puxou do bolso um lenço de bolinhas, 'assuou' o nariz e emborcou outro trago de vinho". A forma correta é "assoou", do verbo "assoar", limpar o nariz. "Assuou" é forma conjugada de "assuar", cujo sentido é "insultar com vaia, vaiar, apupar". E não é de se conceber que Fante escreveria: "Puxou do bolso um lenço de bolinhas, 'vaiou' o nariz e emborcou outro trago de vinho". Só em literatura fantástica ou linguagem figurada alguém "vaia o nariz". Gogol (ou Gógol), certamente, escreveria isso em seu conto O nariz!
 
Por fim, e para não me acusarem de que leio os livros somente em busca de erros, lá está na orelha este tesouro: "João Fante foi acometido de diabetes em 1955". João Fante! Deus, fico pensando se se referem a Machado de Assis, nos EUA, como "Axe de Assis, autor de Dom Casmurro".
 
Bem, encerremos com uma nota: a editora José Olympio erra muito. Atualmente.

sábado, 23 de novembro de 2013

AH, AS POSSIBILIDADES!

"Em uma praia sem atrativos como aquela, sem charme como um resort do Nordeste jamais imaginaria existir, eu via mulheres de todos os tipos e de todos os jeitos, mesmo que procurasse não olhar. Morenas de maiô branco. Loiras com a parte de cima do biquíni aberta nas costas, espécie de topless familiar. Ruivas ficando mais sardentas, meninas aprendendo a virar moças e ainda aquelas com livros na mão, ou revistas, ou jornais, ou a bula do protetor solar, que fosse. Cada uma, uma possibilidade.
"Então eu tive a única iluminação da minha vida, contrariando todos os avisos de apagar as luzes que o governo, em crise de energia, andava espalhando pelo país.
"Não era Úrsula que eu queria, quando me separei de Alice. O que eu queria, na verdade, eram as possibilidades."
 
CLAUDIA TAJES, em As pernas de Úrsula (L&PM, 2011). A autora vem desenvolvendo um belo trabalho de renovação da literatura brasileira contemporânea, conferindo às suas tramas cotidianas uma mistura de psicologia e humor. Nesta novela, assistimos ao despertar de um Casanova moderno, aprisionado durante anos a um casamento insalubre.

domingo, 17 de novembro de 2013

A CARTOMANTE, EM CORDEL

A Nova Alexandria, editora de São Paulo, criou tempos atrás uma coleção de clássicos brasileiros e universais adaptados para o cordel. Na coleção, está o nosso Antônio Barreto, poeta e cordelista baiano, com o seu A cartomante, em cordel (São Paulo, 2012), adaptado do célebre conto de Machado de Assis. Recebi do autor um exemplar na Bienal do Livro da Bahia, na terça-feira, li e gostei muito, por três motivos básicos: 1) o psicologismo do conto se mantém; 2) a ironia de Machado permanece intacta, e 3) a história, um dos melhores relatos curtos de Machado, continua a ser uma trama policial. Barreto, habilidoso cordelista que é, soube reverenciar Machado de Assis, ao mesmo tempo que o entrega, de bom grado, a um público que, talvez, por outras vias, não chegasse a conhece-lo. Portanto, esta adaptação, antes de promover um afastamento da obra machadiana, diluindo-a, constitui um portal de entrada para o seu universo: um dos mais instigantes e complexos de toda a literatura universal.
 
O início
 
"Camilo ria da amada
Com sarcasmo e ironia,
Apenas porque a moça
Por crença e ideologia
Consultou a cartomante,
Que algo estranho previa."
 
O meio
 
"Tinha vontade de rir...
E ria, ria sozinho...
Por saber que a cartomante
Retirara o seu espinho,
Devolvera-lhe a alegria
Pra seguir o seu caminho."
 
O fim
 
"Ele pegou-o pela gola
E deu fim na traição.
Com dois tiros disparados,
Outro corpo foi ao chão...
Restara somente um vivo,
Perdido na solidão."

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

NA BIENAL, NESTE FERIADO

O editor Rosel Soares, da Casarão do Verbo, me convidou para bater um papo com os leitores e autografar exemplares do Três infâncias e outros livros, sexta-feira, dia 15, a partir das 15 horas, na Bienal do Livro da Bahia, no estande da editora (E-04). Os interessados são mais do que bem-vindos.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ARTE E ORALIDADE

São Paulo: Octavo, 2010.
A tendência contemporânea de se ouvir o autor falar, mais do que ler sua obra, que fica à margem das discussões e das ideias, apenas como um pretexto, já havia sido prevista por Octave Uzanne (1851-1931), escritor francês, em sua obra O fim dos livros:
 
"Ao se referirem a um autor de sucesso, as senhoras não mais dirão: 'Eu gosto tanto de sua escrita!' Elas suspirarão trêmulas: 'Oh! Este falante tem uma voz que penetra. Que charme, que emoção; suas notas baixas são adoráveis; seus gritos de amor transpassam. Ele nos parte de emoção após a audição do seu trabalho. É um sequestrador de ouvidos incomparável'".
 
Octave Uzanne ainda previu: "A arte será então uma aristocracia fechada; a produção será rara, mística, devota e altamente pessoal. Esta arte talvez compreenderá de dez a doze apóstolos por geração e, quem sabe, uma centena a mais de fervorosos discípulos".
 
LAUS UZANNE!

domingo, 10 de novembro de 2013

AS PÉROLAS DA SECULT-BA

Capa e contracapa: projeto gráfico da P55.
Abri o livro Autores baianos: um panorama (Secult-BA & P55, 2013), organizado para aumentar o leque de autores baianos "presentes" em Frankfurt, com o coração livre, mas os sentidos aguçados. Como, aliás, faço com qualquer livro que começo a ler. Mas, já nos primeiros textos institucionais, me deparei com tantas "pérolas", que não resisti a fazer uma breve seleta do que li. E foi inevitável que, durante o curso da operação, eu me lembrasse de uma conferência municipal de cultura a que compareci, em Irará, em 2009. Na mesa oficial, encabeçada pelo ex-secretário Márcio Meirelles, não foram poucas as pérolas entregues aos porcos, na plateia. A mais sofisticada de todas procedeu dos lábios, e da mente arguta, de um dos políticos locais: "Cultura é cultura". Houve ainda esta, do chefe da mesa: "Se vocês fizerem uma abundância de silêncio, posso continuar o meu discurso".
 
Mas vamos às pérolas prometidas, começando pelas do eminente secretário de cultura Albino Rubim:
 
1) "Com estas ações, a Secretária de Cultura busca contribuir para a internacionalização da cultura da Bahia e, em especial, para o estabelecimento de novos diálogos interculturais, tão vitais para a cultura".
 
2)"Tais relações interculturais, nacionais e internacionais, por óbvio, pressupõem a afirmação da singularidade da cultura baiana e a relevância da nossa identidade cultural. A rigor, sem estes reconhecimentos, não pode haver uma verdadeira troca cultural, pois ela implica sempre em um encontro entre culturas que se (re)conheçam e respeitem como movimentos relevantes. Sem isto, em lugar de trocas, emergem imposições, dominações e imperialismos culturais."
 
3) "Nesta perspectiva, os diálogos interculturais adquirem um papel essencial para a vida cultural em uma contemporaneidade cada vez mais glocalizada (sic)".
 
Bem, já temos uma amostra suficiente que marca um discurso vazio e tautológico. As palavras "cultura", "intercultural" e "cultural" esvaziam-se de sentido pela repetição e acabam por determinar a incapacidade do autor em ser mais claro e, talvez, de se aprofundar em sua matéria, na qual, se pressupõe, ele seja especialista. Na verdade, ele está embromando, no texto e a todos nós. Numa apresentação de nove parágrafos, apenas em um ele não usa, abundantemente, estas palavras. E é exatamente naquele em que revela, para a minha surpresa, e talvez de muitos, que os autores arrolados no livro o foram, também, pelos "perfis" que possuem. Ou seja, não prevaleceu a relevância estética, se é que, aos olhos do secretário, algum daqueles autores a possui. A esse propósito, cabe citar aqui a fala de um escritor baiano, que, ao saber dos escolhidos, disse: "Eu diminuiria a massa de texto de cada um e aumentaria o arco de autores. Incluiria Antônio Brasileiro, Adelmo Oliveira, José Inácio Vieira de Melo, Carlos Barbosa, Lita Passos, Elieser Cesar, Renata Belmonte, Luís Pimentel, Antônio Barreto, Wladimir Cazé, Nádia São Paulo, Sandro Ornelas e alguns outros. Chegaria a trinta autores. Pecaria antes pelo excesso que pela falta". Mas a verdade é que não houve pesquisa: os próprios autores selecionaram seus textos, os próprios autores redigiram suas biografias. É um livro cujo mérito é dos autores, de ninguém mais. Fica fácil organizar o que quer que seja assim.
 
Encerremos, portanto, com mais algumas pérolas, agora dos colaboradores do secretário:
 
4) "Publicar, traduzir e difundir são passos fundamentais para a internacionalização das políticas públicas para o livro, leitura (sic) e literatura". Ou seja: o propósito é divulgar as "políticas públicas", os autores foram apenas "um modo se usar". Bem dizia Octavio Paz que as palavras dizem mais do que seus autores pretendiam.
 
5) "São literaturas que podem estar configuradas em diferentes tempos num mesmo momento, o presente".  Ah, configuradas... A informática fornece, mesmo, um ótimo vocabulário para se aplicar à cultura e à literatura. Um vocabulário rarefeito.
 
6) "A capoeira, a culinária, o candomblé e o carnaval são as mais especuladas características desta terra, mas há uma Bahia contemporânea desconhecida para muitos". Sem dúvida, inclusive para quem disse isto, pois a capoeira, a culinária, o candomblé e o carnaval não são "características", são manifestações culturais. E o secretário gastando tanta "cultura"...
 
Um amigo costuma dizer que uma das frases mais criativas que ele leu em pichação de muro foi: "Em terra de olho, quem tem um cego, errei". A minha preferida é esta tabuleta, que eu lia e relia, na porta de uma granja, no Rio de Janeiro, sempre que voltava da escola: "Temos frangos abatidos vivos". Pois bem, os escritores baianos, e talvez os leitores baianos, "estão sendo abatidos vivos" por uma secretaria de cultura que tem em seu comando um cego, que jamais dirá: "Errei".

sábado, 9 de novembro de 2013

NA ESCURIDÃO, SEGUNDA-FEIRA

 
O escritor e editor Rogério Pereira estará em Salvador, segunda-feira, 11 de novembro, autografando seu livro Na escuridão, amanhã. Será na Fundação Casa de Jorge Amado, Pelourinho, às 17, horas.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ELES ESTÃO DE VOLTA!

Capa: Ricardo Paixão.
Irônicos, bem-humorados, atrapalhados, mulherengos, humanos e politicamente incorretos. Eles não deixam de solucionar nenhum caso, mas o fazem somente como eles sabem fazer. E ainda encontram tempo para viver seus outros casos. As aventuras de Nicolau & Ricardo: detetives. Mais malucos que antes.
 
A editora é a Penalux, de Guaratinguetá, SP, capitaneada pelos escritores Tonho França e Wilson Gorj.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

AS PROMESSAS DO MEC

Capa: André Ricci Romano.
Em 2009, ganhei com mais nove autores o prêmio Literatura Para Todos, do MEC, com a novela Moinhos. Recebi o prêmio em dinheiro, mas a edição de 300 mil exemplares da novela, que a princípio seria distribuída em escolas públicas de todo o País, jamais passou de promessa, palavras vazias num edital que não se levou a sério. Tal fato, metonimicamente, dá a medida do que é o MEC e, por extensão o Governo do Brasil, quando o assunto em questão é educação, arte ou cultura. E não esqueçamos o que disse o Pai da Relatividade: o maior inimigo do homem é o Governo. Felizmente, Moinhos saiu em edição comercial, enfeixada no volume Três infâncias, publicado pela Casarão do Verbo, em 2011, para a alegria do autor e o deleite de alguns poucos leitores. Se é verdade que se conhece uma nação pelas celebridades que ela cultua (Woody Allen, em Celebridades), é lícito afirmar que se compreende melhor um Governo  por aquilo que ele não cumpre ou deixa de fazer. E fatos miúdos como este são somente peças de uma engrenagem muito maior, que funciona a duras penas, resfolegando na escuridão. Mas o dinheiro que ela imprime, movimenta, distribui...

terça-feira, 22 de outubro de 2013

MINICONTOS REAIS, 3: PÓS-COITO

A "linda" estação da Lapa, em Salvador. Foto: Wikimapia.
O escritor saiu de um sebo nos arredores da estação da Lapa, Salvador, Brasil, e caminhava em direção às escadas rolantes, quando passou à sua frente um garoto de uns catorze anos. Pisava na ponta dos pés, enxugava com a mão trêmula o rosto banhado de lágrimas ― os lábios inchados, um fio de sangue correndo profuso da têmpora direita... Obviamente, o escritor olhou na direção do módulo policial, à sua esquerda, onde dois policiais ― ou dois gorilas ― observavam satisfeitos, como que saídos do coito, o garoto se afastar.

domingo, 13 de outubro de 2013

PIO GATILHO NA DIVERSOS AFINS

Pio Gatilho está de volta num conto inédito, especialmente escrito para a revista Diversos Afins. Aos leitores interessados, que gostam do cara, apreciam seus métodos de ação e sua insuspeitável humanidade, vai aqui o primeiro parágrafo. O restante está na Diversos Afins. Aproveito a oportunidade para agradecer ao Fabrício Brandão e ao Rodrigo Melo o convite para participar da revista.

CARAS QUE NÃO COSTUMAM LER LIVROS

Dani Dark tinha viajado. Rio de Janeiro. Um congresso em seu ramo de atividade, que não vem ao caso explicitar aqui. O certo é que, àquela hora, ela estava num hotel da Zona Sul, o mar em frente, numa verdadeira metrópole, e eu aqui, comendo no Yang Ping do Center Lapa e, nos dias em que não tinha trabalho, saindo cedo para caminhar no Dique. Era tudo. Meu trabalho, vocês sabem... Quem leu os contos do Gallo já me conhece. Eu mato. Sou pago para matar. Gente rica, e até gente pobre, me contrata com frequência. Mas também já matei para fazer cumprir a justiça. Instinto de nobreza, uma coisa assim do Zorro, que não faz de ninguém um sujeito melhor nem pior ― muito menos eu ― e que, sobretudo, não nos salva do injustificável: o fim do túnel lá adiante e o salto, afinal, no abismo. (continua)

Conto incorporado ao volume inédito O próximo herói.

sábado, 12 de outubro de 2013

LEITURAS, 35: MATÉI VISNIEC

Edição brasileira, 2013.
Há quem arrote a plenos pulmões que não lê peças teatrais. Há quem diga também que o conto é um gênero menor, esquecendo-se de que dois dos maiores escritores de todos os tempos ― Guy de Maupassant e Jorge Luis Borges ― foram principalmente contistas. É, talvez ― mas sem pensar que o autor o fez de propósito, por provocação ―, com esta orientação às avessas que se deve entrar na leitura de Cuidado com as velhinhas carentes e solitárias (Attention aux vieilles dames rongées par la solitude, 2004), de Matéi Visniec. O contemporâneo autor romeno, e que já é um dramaturgo renomado, estabelece em quinze peças curtas, de um só ato, a fusão do dramático com o épico, e mostra o quanto o nosso mundo é estranho e absurdo. Em todos estes contos, narrados através do diálogo ou do monólogo, a intenção é inquietar o leitor e o obrigar a pensar. Se um homem não consegue deixar uma estação de trem, há alguma coisa errada, ou com ele ou com a realidade. E se uma garota e um cara pedem carona numa estrada, cada um por sua vez, e quando se falam é somente em vista de uma trepada, há alguma coisa que merece reflexão. Uma mulher grávida que se refugia no deserto; outra que não admite, na cama, que seu amante, após o ato, acenda um cigarro; uma garçonete que conhece mais o cliente que ele mesmo; um homem à procura de um lugar livre onde ser enterrado depois de morrer... Estas são algumas das histórias “cotidianas” de Matéi Visniec. Quem não foge ao diálogo e aprecia um monólogo não deve perder de se enriquecer com elas.

Também publicado na Verbo 21.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

LEITURAS, 34: MARCELINO PEDREGULHO

Cosac Naify, 2009.
Neste livro, o francês Sempé ― para muitos um simples cartunista e para outros um gênio ― reúne seu desenho personalíssimo à capacidade de narrar com desenvoltura e nos conta a história de dois amigos, René, que espirra o tempo todo, sem motivo de doença, e Marcelino, que o tempo todo fica vermelho, também sem motivo algum. Com suas diferenças e suas idiossincrasias, eles enfrentam o mundo, crescem, se formam, ingressam no mercado adulto das responsabilidades, mas não deixam de ser o que são: um sujeito que espirra sem motivo, e outro que se ruboriza por nada. Ou seja, a vida em sociedade, apesar de tudo, não foi capaz de alterá-los. Aparentemente uma história para crianças, Marcelino Pedregulho (Marcellin Caillou, 1969) é, no entanto, uma alegoria da condição humana, um apólogo do inesperado na vida de todos nós e, claro, o que de melhor podemos fazer, se não conseguimos evita-lo.

Também publicado na Verbo 21.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CONTOS PARA MEIA-NOITE

No filme Como roubar um milhão de dólares (How to steal a million, 1966), de William Wyler, a personagem Nicole, interpretada pela sempre sensacional Audrey Hepburn, aparece na cama, sozinha, tarde da noite, lendo uma coletânea de contos de suspense, quando, de repente, lá embaixo, na sala às escuras, ouve-se um barulho... Consequentemente, e por efeito do livro que lê, ela sente medo e arregala os olhos. Foi pensando em leitores como ela, ávidos pela sensação de pavor, que Dhan Ribeiro, editor da Kalango, lançou recentemente um concurso para escolher algumas boas histórias de suspense de autores brasileiros, com o projeto Contos para meia-noite. Os interessados em concorrer, devem acessar o regulamento no site da editora e inscrever seu trabalho. O prazo se esgota em 5 de dezembro de 2013. Ou seja, você ainda tem tempo de escrever sua história.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

COMO LER OS GRANDES AUTORES

Edição Brasileira: Editora 34.
Vivemos um melancólico tempo de padronização em tudo. Dos comportamentos, do vestuário, da escrita, da cultura (a Secult-BA quer que os autores de uma publicação para a feira de Frankfurt sejam apresentados por foto idêntica, da cintura para cima e fundo branco), das respostas, das perguntas e, obviamente, da leitura. Eis o motivo por que abundam livros com o mesmo entrecho e igual estilo, e que as grandes livrarias vendem como novidade. Ah, novidade de capa! Talvez de um "novo" autor, não muito diferente daquele último que entrou na lista dos mais vendidos, mês passado. Seguramente de editora, pois as editoras se esforçam por superar umas às outras sem qualquer intenção de diversidade, de bibliodiversidade. Ou seja, mais do mesmo. Sempre.

Um cenário deste e uma orientação assim, para o "igual", são decisivos para uma desastrosa recepção da Literatura. Reiteremos, Literatura, e não literatura, comumente de consumo ou de massa. A Literatura trabalha com visões de mundo singulares, pontos de vista diversos, investe na forma e acentua o estilo, tanto na linguagem quanto no dinamismo com que articula as partes de uma trama ou de um poema, por menos específicos ou mais pessoais que sejam. Impõe um sentido ambíguo à condição humana e representa o mundo, este em que vivemos e outros, enfatizando as suas possibilidades, o que resulta no aumento do senso crítico do leitor, em lugar de embotá-lo na mesmice da repetição. Cada autor será, por sua vez, um mundo novo e um estilo único, aos quais os leitores vão se habituar e onde vão permanecer, enriquecendo-se, até que uma nova leitura, de um outro Autor, os chame e os conquiste, para revigorantes experimentações.

No seu romance Como fazer amor com um negro sem se cansar (Comment faire l'amour avec un negre sans se fatiguer, 1985), o haitiano Dany Laferrière sugere cenários ou adaptações ou climas para se ler cada grande autor:

"É preciso ler Hemingway de pé, Bashô andando, Proust na banheira, Cervantes no hospital, Simenon no trem (Canadian Pacific), Dante no paraíso, Dosto no inferno, Miller num bar esfumaçado com cachorros quentes, fritas e Coca-Cola... Eu lia Mishima com uma garrafa de vinho barato ao pé da cama, completamente esgotado, e uma garota ao lado, no chuveiro".

Uma bela metáfora do que é a Leitura de Literatura: uma troca constante de estação, uma temporada a cada novo autor, atual ou clássico, e aos quais devemos nos adaptar, como o fazemos a cada estação do ano.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

TEMPO GANHO, TEMPO PERDIDO

"Eu tinha tantas coisas na cabeça! Tantas, que me custava colocá-las em ordem. Acontecia-me às vezes, mesmo no escritório. Não reorganizava imediatamente uma pasta e acabava por não conseguir mais encontrá-la. E minha mãe dizia então que as coisas devem ser colocadas em seu lugar à medida que chegam, quando ainda podem ser administradas; que, quando se deixa espaço para a desordem, vem o desânimo e não se consegue mais reorganizar nada, perde-se um monte de tempo. Mas, ao contrário, quando se perde aquele bocadinho de tempo necessário para recolocar uma coisa imediatamente em seu lugar, depois é tudo tempo ganho, pois cada coisa está em seu lugar a qualquer momento que se procure..."

MARCELLO FOIS, escritor italiano, em Sempre caro (Record, 2004). Com pouco mais de cinquenta anos, Fois vem se notabilizando por uma produção de reconhecido valor literário e alguma penetração popular, talvez oriunda dos prêmios que ganhou, o Calvino, em 1995, e o Dessi, dois anos depois, bem como de seu estilo, preciso e envolvente. Criador do personagem Bustianu, um advogado que, por força das circunstâncias, acaba por resolver intrincados crimes.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

AMOR DE MÃE EM TARDES DE OUTONO

Pintura de José Pancetti (1902-1958).
No precioso volume As mais belas páginas da Literatura Árabe, organizado pelo insigne Mansour Challita, e que é uma fonte quase inesgotável de minicontos milenares, há este, de autoria de Al-Asbahani e intitulado:

AMOR DE MÃE

Uma anedota popular árabe conta que uma mãe, a quem perguntaram a qual dos filhos mais amava, respondeu:
"Ao pequenino, até que cresça; ao enfermo, até que cure; ao ausente, até que volte".

Minha mãe, ao mesmo tempo emotiva e cartesiana, era bem assim. E aqui fica este texto, em sua memória, pois hoje, se viva, completaria 81 anos.

Quanto ao belo quadro de Pancetti, é inevitável que ele me faça recordar o tempo em que moramos numa ilha, no RJ. Não era incomum que minha mãe, nas tardes de outono, que não eram quentes nem frias, me levasse, pequeno, a caminhar pela praia. A sensação que tenho hoje, ao me recordar daqueles momentos, é a de que estávamos sozinhos no mundo. Como as duas figuras no quadro. Assim são as lembranças, simples interpretações.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

CINECONHECIMENTO, 5: O VAZIO

"A gente está sempre desprotegido, contra tudo. Qualquer imbecil pode te estragar o dia, o mês, o ano, a vida. Uma notícia de jornal, um automóvel, micróbio, uma casca de banana podem mudar o quadro de sua vida ou acabar com tudo. Um sujeito mais forte que você pode te bater e te humilhar, a qualquer instante. Um louco qualquer pode te dar um tiro, agora, assim, bum!, e acabou. Você nunca consegue dispor de sua própria vida, ser o elemento decisivo dela. No fundo, nós estamos sempre fazendo o que os outros querem. Você tem que trabalhar, tem que estudar, tem que pagar impostos, ter documentos, tem que ir pra guerra e tem que ter dinheiro, roupa, casa, família."

Diz Paulo José para Anecy Rocha, no leito de amor, em As amorosas (1968), de Walter Hugo Khouri, que sofreu com o descaso e a perseguição dos adeptos do Cinema Novo, por fazer cinema psicológico num país e época em que quase toda a arte era de natureza sociopolítica e, consequentemente, datada.

Os patrulheiros cinema-novistas não o deixavam em paz, por constituir uma voz dissidente e única, cujos filmes escolhiam o indivíduo em detrimento do contexto e do tempo, enfatizando seu estado de ânimo. As angulações são subjetivas, silêncios contrastam com uma trilha sonora abstrata e nervosa, metáforas surgem espontaneamente, ideias entram em choque, a nudez é sempre poética e metonímica, e os pensamentos íntimos dos personagens emergem na tela sem a mediação de qualquer palavra. Noite vazia (1964) e Corpo ardente (1966) formam com As amorosas uma espécie de trilogia do desespero e do vazio.

domingo, 25 de agosto de 2013

VÁ E VEJA, 20: A FONTE DAS MULHERES

Lisístrata (411 a. C.), de Aristófanes (nascido em 445 a. C., morto entre 385 e 380 a. C.), é uma das mais importantes peças gregas do período clássico. Só não é mais cultuada que as célebres tragédias de Sófocles, Ésquilo e Eurípedes. E, obviamente, por se tratar de uma comédia, classificada como "gênero menor" por Aristóteles, não recebe a devida atenção do público, da crítica, nem dos estudiosos. O riso, mesmo hoje, ainda é preterido em favor do páthos da tragédia ou do drama. Mas foi em Lisístrata que o cineasta Radu Mihaileanu buscou inspiração para o seu excelente filme A fonte das mulheres (2010). Se na referida comédia grega as mulheres resolvem fazer greve de sexo como forma de protestar contra a guerra e obrigar seus cônjuges e filhos a abandonar as sangrentas batalhas, as mulheres do filme o fazem por uma causa mais prosaica: forçar seus maridos a se dirigir à fonte para pegar água, preservando-as, assim, de um esforço maior, que, em estado de gravidez, prejudica-as gravemente. Porque presencia uma de suas vizinhas cair, ao descer da montanha com o peso de dois baldes de água, e perder o filho que trazia no ventre, Leila sugere que todas as mulheres façam "greve de amor", até que seus maridos se prontifiquem a buscar água ou consigam que o Governo a canalize ao centro da aldeia. Com este argumento, A fonte das mulheres promove um debate acerca de importantes questões, como a condição da mulher árabe, sempre vista à sombra de uma suposta supremacia masculina e à qual veta-se o direito à voz e à opinião, bem como ao conforto e ao conhecimento. No auge de sua heterodoxia, o filme propõe que se proceda a uma leitura crítica do Alcorão, seguida de uma revisão dos dogmas impostos, adotados convenientemente para o proveito dos homens. Pelos lábios de Lisístrata, aprendemos que "onde está o tesouro está o poder". Pelas atitudes daquelas mulheres árabes, seus maridos compreendem, de uma vez por todas, que, se o tesouro da fonte é a água, o das mulheres é o "amor".

sábado, 17 de agosto de 2013

CENTENÁRIO DE ALBERT CAMUS, 2

Além de romancista, contista e ensaísta, Albert Camus (1913-1960) foi polêmico dramaturgo. Quatro peças o tornaram um importante escritor de teatro e muito respeitado: O estado de sítio (1948), Os justos (1949), Calígula (1945) e O equívoco (1944). As duas últimas foram reunidas num só volume pela editora portuguesa Livros do Brasil, de Lisboa, em edição sem data. Pelo que se sabe, é a única em língua portuguesa.

Em Calígula, Camus transforma o imperador romano, um dos mais cruéis da história de Roma, num homem solitário, amargurado pela morte de sua irmã Drusilla, seu único amor, e sempre à procura de uma liberdade plena, simbolizada pelo exercício absoluto do poder: "Este mundo, tal como está feito, não é suportável. Tenho, portanto, necessidade da Lua, ou da felicidade, ou da imortalidade, de qualquer coisa de demente, talvez, mas que não seja deste mundo", ele decreta logo no início. Daí por diante, confisca o dinheiro e os bens dos romanos, humilha-os, tripudia dos Deuses, das leis e dos poetas, desdenha da opinião alheia, pratica a tortura psicológica e principalmente mata, sem piedade. Nada muito diferente das práticas dos governantes contemporâneos, com a diferença de que, em Calígula, há um propósito "mais elevado", uma certa filosofia do caos, que o faz afirmar: "Acabo de compreender, enfim, a utilidade do poder. Ele dá as suas oportunidades ao impossível. Hoje, e por todo o tempo que virá, a minha liberdade não tem fronteiras".

Em O equívoco, cuja trama já aparece esboçada num breve trecho de O estrangeiro, Camus ironiza com o tema bíblico da volta do filho pródigo e escreve um de seus dramas mais gélidos e sombrios: depois de vinte anos ausente, Jan volta para o lar, a pensãadministrada por sua mãe e sua irmã; quer lhes fazer uma surpresa e, como não é reconhecido, registra-se com um outro nome; ele pretende ajudá-las financeiramente, mas não sabe que elas vivem há anos de roubar e assassinar os moradores da pousada, sobretudo os homens, e ele pode ser a próxima vítima... Ironicamente, uma das falas capitais da peça, pronunciada pela mãe de Jan, é: "É mais fácil matar o que não se conhece". Ou seja, o filho. Como em O estrangeiro, o responsável pelos atos da irmã é o sol, tropical e apaziguador, capaz de aliviar-lhe a inércia e a solidão, e sob o qual espera obter, afinal, a felicidade, longe de um "país de nuvens". Já a mãe, ela mata para descansar, chegar a um termo, como o protagonista de A morte feliz, romance póstumo de Camus e uma de suas melhores obras: a riqueza que ambos adquirem por matar justifica seu ato.

Nas duas peças, de caráter reflexivo, Camus emprega a ação dramática com o propósito de expor o seu pensamento, em especial a ideia de que a existência humana é absurda em si, uma vez que existe a morte, destino incontornável. Incapaz de driblá-la, o homem fica a meio caminho entre uma liberdade relativa e a felicidade possível, jamais alcançada: "Os homens morrem e não são felizes". Este é um de seus aforismos mais célebres e que, pronunciado por Calígula, adquire um sentido dúbio: de lamento e de sarcasmo. E é igualmente pelos lábios de Calígula que se chega a uma afirmação ainda mais cáustica, muito embora utópica, para não dizer verdadeira: "Este mundo não tem importância, e quem reconhece isto conquista a sua liberdade". Liberdade, desprezo e, talvez, felicidade têm uma só face.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

TRECHOS SINGULARES

Estudo de capa, não aprovado.
Emmanuel Mirdad, um dos mentores da Festa Literária de Cachoeira (FLICA), postou em seu blogue, alguns trechos de sua preferência, extraídos de Cidade singular (Kalango, 2013). Recentemente, conversamos sobre o livro, e ele me falou dos contos que mais apreciara, expondo os motivos e comentando algumas passagens. Como autor, sempre me surpreendo com os efeitos que um conto provoca no leitor, bem diversos da motivação que me levou a escrevê-lo. Lembro-me de Mirdad me perguntar sobre o conto Muros, ao que eu respondi que era um dos meus favoritos, mas, certamente, por uma razão completamente diferente da que ele ou outro leitor viesse a apontar. Na verdade, como falei que gostava de Muros, ele não disse nada, talvez porque, por elegância, não quisesse confrontar o autor. Minha preferência por Muros se justifica pela forma, especialmente o tom das frases, o ritmo da trama e o uso do tempo verbal presente, que confere ao relato uma expressividade poética e onírica. Não se assemelha em linguagem e estrutura a nenhum dos demais contos e, por isso, é quase um ente estranho ao conjunto, o que me parece o bastante para ressaltá-lo. Quem quiser ler os textos pescados de Cidade singular pelo Mirdad, acesse aqui

terça-feira, 6 de agosto de 2013

LEITURAS, 33: ARTE DO ROMANCE

A capa forja o livro dentro do livro.
Dois escritores franceses são convidados pela embaixada da França a ir ao Cairo, no Egito, participar de algumas atividades literárias. Lá, se misturam às pessoas, vivem o cotidiano noturno da cidade (em nada parecido com o do Ocidente), enchem a cara, envolvem-se numa disputa amorosa, encetam um debate sobre religião e, enfim, mais experientes como homens e escritores, voltam a Paris. Depois de um tempo, um dos autores recebe pelo correio o exemplar de um romance que narra a história vivida por eles durante aquela temporada no Egito. Supostamente o autor é o outro escritor, escamoteado sob um pseudônimo. Ou talvez a bela e intrigante Lamia, pivô dos interesses amorosos de ambos lá no Cairo. O livro, tão logo chega às livrarias, ecoa como uma bomba na imprensa francesa, por causa do seu ataque ao islamismo. Tal argumento, cheio de peripécias, é só um pretexto para Florian Zeller escrever um romance cujo propósito é refletir sobre o papel do escritor na sociedade, seu compromisso com a verdade e seu direito de romancear qualquer acontecimento, seja ele de que natureza for. Com A fascinação pelo pior (Rio de Janeiro: Rocco, 2008), obra elegantemente bem escrita (uma característica da ficção francesa contemporânea), Zeller propõe que a literatura, e em especial o romance, é o lugar da liberdade, a única modalidade de texto em que tudo pode ser dito e que é um erro da parte dos leitores supor que a ficção constitui um espelho do pensamento e da personalidade do autor. Bem, às vezes isso pode ocorrer: há os que insistem, depois de tudo, em repetir a si mesmo, e ainda mais hoje, quando se cobra do autor engajamento com as causas mais bizarras e uma postura politicamente correta que beira o delírio. Mas, em geral, o que o autor representa num romance é uma verdade possível, não a Verdade, e sua permanência e efeito reais terminam quando fechamos a obra. No rastro de Milan Kundera, Zeller afirma que o romance é uma arte "incompatível com qualquer espírito religioso, pois ela é, essencialmente, uma profanação. O romance torna intangível tudo aquilo que ele mesmo toca e que remete, assim, à ambiguidade moral do homem e à relativização fundamental das coisas. Aqueles que acreditam ser os donos da verdade e que não admitem contestações sentem-se, portanto, diretamente ameaçados pela arte do romance. Por isso têm um interesse cruel na sua destruição. Através de Rushdie, o que o imã queria eliminar era a própria arte do romance como um todo".

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

LEITURAS, 32: HELENA TERRA

Capa: Humberto Nunes.
Conheci a Helena Terra através do blogue Bípede Falante, que, infelizmente, ela encerrou. Desde o princípio, percebi que ela escrevia bem e que seus pontos de vista diferiam dos demais blogueiros que eu acompanhava. Além do mais, alimentávamos, ela e eu, uma predileção literária: os autores húngaros. Sándor Márai, Ferenc Molnár e seus compatriotas não são de gastar palavras e, em geral, nos impõem uma experiência primordial, que excede a estética europeia, e da qual não conseguimos, jamais, nos libertar. Uma vez lidos, serão sempre admirados, revisitados e relidos. E foi assim, com estas lembranças, que abri o seu A condição indestrutível de ter sido (Porto Alegre: Dublinense, 2013), feliz com o fato de ela publicar sua primeira narrativa longa, mas com receio de, por algum motivo, não conseguir apreciá-lo. Os mais difíceis julgamentos são aqueles em que um segundo princípio, neste caso a amizade, está em jogo. Mas foi o contrário. Li-o inteiramente durante uma madrugada. A história de amor que surge em meio às navegações da internet e alcança o corpo a corpo me arrebatou, e não fosse o seu estilo, econômico e reflexivo, ainda assim eu a admiraria, pois as histórias de amor são as que ficam. Na linhagem de Henry James, pois abdica de cenários e ação em favor das ideias e dos torneios dialéticos, Helena Terra reafirma a minha convicção de que literatura é linguagem, frases bem construídas, ideias em debate, gozo estético, arrebatamento e metáforas. Não é senão por isso que nos entregamos à leitura de poesia e ficção. Outro aspecto a se ressaltar é a estrutura da trama, que, no desfecho, resgata um motivo apenas esboçado no início, surpreendendo o leitor, que, naquele momento, teme por alguma solução mais fácil. E o mais edificante é que ela não o faz de maneira postiça: a conclusão é tão espontânea e vívida, que, de imediato, sabemos que é a própria existência que a esculpe, com seu fluxo implacável. Todas as ficções só encerram um propósito: representar a vida, e é esta que acaba por moldar as histórias, por mais estranhas que sejam. Pensemos somente em Os ratos, de Dyonélio Machado, ou em Noite, de Érico Veríssimo. Seus protagonistas pouco interferem e, quando o fazem, é por efeito dos cordames que os movem. Minha felicidade, portanto, foi plena: por admirar a obra em si e por saber que, de alguma forma, durante aqueles anos que acompanhei o Bípede Falante, testemunhava, indiretamente, a autora surgir. E para ficar, obviamente, pois não são de curto alcance os autores que escrevem trechos assim: "Desde o princípio, a vida se transforma conforme a incidência de luz; as pessoas, com a chegada de outras. Uma chegada é um enigma". Saudemos a chegada de Helena Terra, uma escritora por quem expresso aqui a minha admiração. 

sábado, 27 de julho de 2013

LIVROS DE POLÍTICOS

Que inocência!
"Há vários anos, todo político escreve (ou, mais precisamente, encomenda) um livro tentando seduzir os imbecis para recuperar um pouco do prestígio que perde a cada dia. É a espinha mais dolorosa que temos de engolir em nome da liberdade de expressão: os políticos dando de espertinhos para lá e para cá, num e noutro estúdio de televisão, tentando mostrar que no fundo são pessoas legais e que estaríamos equivocados se não votássemos neles. Mas a situação é justamente essa. Então, para não acabarem se desmoralizando totalmente, preferem fazer acreditar que também se interessam por outras coisas além da própria carreira; encomendam a alguém um pequeno livro, apõem impunemente sua assinatura nele e voltam aos estúdios de televisão, dessa vez sem gravata, para tentar se vender de novo; com efeito, os políticos se tornaram meras prostitutas que já não conseguem divertir ninguém e rodam as bolsinhas por aí, miseravelmente."

Palavras do escritor francês FLORIAN ZELLER, em A fascinação pelo pior (Rio de Janeiro: Rocco, 2008), publicado originalmente na França em 2004, pelas Éditions Flammarion.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

DIA DO ESCRITOR: TRÊS HISTÓRIAS

Capa: Guilherme Peres.
AVE, PALAVRA

O poeta sentou debaixo da árvore. Armou o alçapão e ficou à espera.
Esperando o quê?
Ninguém sabia. A armadilha era tão invisível quanto o pássaro que ele esperava.


CANÁRIO

Ao atravessar a rua, o poeta se distraiu e não viu o carro vindo em sua direção.
Trágico acidente.
Do fio do poste voou impune o verdadeiro culpado.


EÇA É BOA

Em dias assim, kafka eu a pensar: kundera eu fosse um grande escritor, capaz de escrever obras-primas camus estas... Poe certo, eu não estaria aqui, camões doendo de tanto empilhar livros. Eu, homero bibliotecário.

Todas de Histórias para ninar dragões (Multifoco, 2012), de Wilson Gorj, que, além de poeta, contista e editor, nasceu no dia do escritor, profissão reconhecida, mas não regulamentada. Uma das justificativas: "O Brasil é um País que lê pouco, o livro custa caro, e a população não tem renda disponível para tais luxos", afirmou Elias Daher, na condição de presidente do Sindicato dos Escritores (DF). Parabéns, Governo Brasileiro, pelo excelente País que os senhores estão formando!

terça-feira, 23 de julho de 2013

LEITURAS, 31: ABAIXO DE ZERO

L&PM e Rocco, 2011.
O tom é de frieza e desinteresse; o assunto, sexo, drogas e violência; ao ritmo de festas, rock e videogame. Poucas vezes um romance foi tão cínico. E poucas vezes o cinismo foi tão belo. Com Abaixo de zero (Less than zero, 1985), Bret Easton Ellis apareceu para o mundo da literatura, e o fez de maneira contundente, descrevendo, num estilo seco e sem envolvimento emocional, o universo alienado dos jovens ricos da Califórnia. Clay, Rip, Kim, Alana, Blair, Muriel, Trent, Daniel e tantos outros (ninguém tem sobrenome) gozam as férias de fim de ano e, em seus carrões, perambulam por boates, restaurantes, lanchonetes, shopping centers, bares, cinemas e festas. As conversas são vazias e giram sobre assuntos os mais fúteis. Eles não apreciam nada, e nada lhes importa, senão as canções do momento e as drogas, que os mantêm estimulados. As relações amorosas são efêmeras e, em geral, não vão além de uma trepada, num estado de ânimo tão intenso que faria desaparecer a espécie. Um motor de desencanto e impaciência conduz suas vidas, que, durante aquele mês, avançam mais um pouco em direção ao nada e ao fim. Quase ao final do livro, o narrador, que, sem dúvida, nos assusta com sua passividade e seu alheamento, incapaz de pronunciar qualquer reflexão, praticamente se justifica e define seu comportamento estoico e niilista: "Não quero me interessar. Se eu me interessar pelas coisas, vai ser pior. É menos doloroso não ligar". Creio que ele está certo. Como creio que este livro é tão mortal quanto um tiro. Experimente. Ou não. Às vezes, é melhor não ler. Não leia!

domingo, 21 de julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

CINECONHECIMENTO, 4: DIAMANTES

Em meio ao mítico deserto africano, onde os diamantes pululam à flor da terra, Peter Lorre diz para Burt Lancaster, à entrada de um restaurante chique de Diamantstad:

"Olhe este lugar um instante. Sempre me lembra o interior de uma baleia. É só uma associação intelectual, claro. Mas é do interior de uma baleia que retiramos a base para os perfumes mais incríveis, o que, em troca, confundimos com desejo, virtude, uma grande paixão. Por que está aqui? Eu, você, qualquer um de nós, por que ficamos em Diamantstad? Porque nos apaixonamos. É, sim, nós nos apaixonamos, colhendo desta mulher, deste deserto, desta cortesã impiedosa. Mas ficamos aqui, eternamente esperançosos, por um pequeno privilégio resplandecente. Este deserto é um lugar incrível, onde as pedras preciosas estão logo aqui embaixo, livres. Livres e prontas a ser apanhadas, não fossem algumas restrições infelizes".

Com roteiro de Walter Doniger e John Paxton, e direção do alemão William Dieterle, que se especializou em filmes biográficos, Zona proibida (Rope of sand, 1949) é um noir diferente, passado sob o sol implacável do deserto e na escuridão silenciosa da ambiguidade humana. Mas os ícones básicos estão presentes: a femme fatal (interpretada pela francesa Corinne Calvet), homens ambiciosos em luta, riqueza imensurável, marcas do passado, traições, caprichos, virtudes inesperadas e beijos de perder o fôlego. Se a maior conquista dos filmes do gênero noir é mesmo a mulher, não será demais afirmar que seus melhores companheiros são, de fato, os diamantes.

sábado, 6 de julho de 2013

LEITURAS, 30: DO AMOR AUSENTE

Do amor ausente, de Paulo Roberto Pires (Rio de Janeiro: Rocco, 2000), é um dos mais originais romances breves de nossa literatura, nos últimos anos. No estilo, mistura registro poético com linguagem protocolar; no assunto, contrapõe não-ditos com análises sutis; no desfecho, faz opção pela ambiguidade. A própria história é uma metáfora da impossibilidade de apreensão e domínio da vida, do amor, das relações. Sua originalidade o faz desgarrado de qualquer linhagem, para frente ou para trás. Um romance em tom menor (sem lamentos, nem queixas, nem gritos), discreto como uma brisa, mas de alcance largo, profundo. Reflexões, algumas singulares, outras meramente funcionais, em coerência com a narrativa, costuram a trama. Como esta, que desenvolve uma suposta teoria sobre o destino final das paixões: "As que se consomem em sim mesmas, e se apagam. As outras, que se extraviam por motivos vários, desde os desencontros cotidianos até a inadaptação à vida prática, que segue. Há ainda as que sequer se consumaram, que subsistem como memória simulada". A lamentar somente a péssima edição da Rocco, com erros crassos, tanto de revisão quanto de edição.

Também publicado na Verbo 21.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

AS 10+ DE WHISKY COM BOLACHAS

O verdadeiro Juvenal Juvêncio. Fonte: Uol.
Semana passada, publiquei aqui uma resenha do livro Whisky com bolachas (Casarão do Verbo, 2012), de Juvenal Juvêncio Fake, e rapidamente tornou-se uma das postagens mais visitadas. Isso me motivou a escolher as dez melhores frases do livro, segundo critérios pessoais de gosto e, claro, de humor, ironia  essência de todo o livro. No mais, optei por aquelas frases que não necessitam de contexto, cujo entendimento é imediato, e não perdem sentido com o passar do tempo.

1. "Com a morte do gênio Chico Anísio, o maior comediante do país passa a ser o Corinthians mesmo."

2. "Ronaldinho pediu a camisa 49 para ficar mais perto da 51."

3. "Existe um antigo provérbio chinês que diz: esporte é só futebol, o resto é gincana."

4. "Os deuses do futebol jamais permitiriam que o Neymar tivesse uma medalha de ouro e o Romário não."

5. "Bolão do Pai Juvenal: o juiz vai errar a favor do Corinthians no primeiro ou no segundo tempo?"

6. "Hoje, no elevador, o ascensorista: ― Vai subir ou vai Palmeiras?"

7. "Não é que eu erre em algumas contratações. Às vezes eu contrato pernas de pau só pra fazer piada."

8. "Num país sério, a história do Rogério Ceni seria ensinada nas escolas."

9. "Tô pensando em comprar algum time pequeno da Espanha e montar uma filial do São Paulo, só pra gente também ganhar a Champions League."

10. "É duro torcer para o Atlético (MG). Você nada, nada, nada e não tem nem praia pra morrer."