"Eu respirava naquelas salas, como um incenso, esse cheiro de velha biblioteca que vale todos os perfumes do mundo." Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ELES ESTÃO DE VOLTA!

Capa: Ricardo Paixão.
Irônicos, bem-humorados, atrapalhados, mulherengos, humanos e politicamente incorretos. Eles não deixam de solucionar nenhum caso, mas o fazem somente como eles sabem fazer. E ainda encontram tempo para viver seus outros casos. As aventuras de Nicolau & Ricardo: detetives. Mais malucos que antes.
 
A editora é a Penalux, de Guaratinguetá, SP, capitaneada pelos escritores Tonho França e Wilson Gorj.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

AS PROMESSAS DO MEC

Capa: André Ricci Romano.
Em 2009, ganhei com mais nove autores o prêmio Literatura Para Todos, do MEC, com a novela Moinhos. Recebi o prêmio em dinheiro, mas a edição de 300 mil exemplares da novela, que a princípio seria distribuída em escolas públicas de todo o País, jamais passou de promessa, palavras vazias num edital que não se levou a sério. Tal fato, metonimicamente, dá a medida do que é o MEC e, por extensão o Governo do Brasil, quando o assunto em questão é educação, arte ou cultura. E não esqueçamos o que disse o Pai da Relatividade: o maior inimigo do homem é o Governo. Felizmente, Moinhos saiu em edição comercial, enfeixada no volume Três infâncias, publicado pela Casarão do Verbo, em 2011, para a alegria do autor e o deleite de alguns poucos leitores. Se é verdade que se conhece uma nação pelas celebridades que ela cultua (Woody Allen, em Celebridades), é lícito afirmar que se compreende melhor um Governo  por aquilo que ele não cumpre ou deixa de fazer. E fatos miúdos como este são somente peças de uma engrenagem muito maior, que funciona a duras penas, resfolegando na escuridão. Mas o dinheiro que ela imprime, movimenta, distribui...

terça-feira, 22 de outubro de 2013

MINICONTOS REAIS, 3: PÓS-COITO

A "linda" estação da Lapa, em Salvador. Foto: Wikimapia.
O escritor saiu de um sebo nos arredores da estação da Lapa, Salvador, Brasil, e caminhava em direção às escadas rolantes, quando passou à sua frente um garoto de uns catorze anos. Pisava na ponta dos pés, enxugava com a mão trêmula o rosto banhado de lágrimas ― os lábios inchados, um fio de sangue correndo profuso da têmpora direita... Obviamente, o escritor olhou na direção do módulo policial, à sua esquerda, onde dois policiais ― ou dois gorilas ― observavam satisfeitos, como que saídos do coito, o garoto se afastar.

domingo, 13 de outubro de 2013

PIO GATILHO NA DIVERSOS AFINS

Pio Gatilho está de volta num conto inédito, especialmente escrito para a revista Diversos Afins. Aos leitores interessados, que gostam do cara, apreciam seus métodos de ação e sua insuspeitável humanidade, vai aqui o primeiro parágrafo. O restante está na Diversos Afins. Aproveito a oportunidade para agradecer ao Fabrício Brandão e ao Rodrigo Melo o convite para participar da revista.

CARAS QUE NÃO COSTUMAM LER LIVROS

Dani Dark tinha viajado. Rio de Janeiro. Um congresso em seu ramo de atividade, que não vem ao caso explicitar aqui. O certo é que, àquela hora, ela estava num hotel da Zona Sul, o mar em frente, numa verdadeira metrópole, e eu aqui, comendo no Yang Ping do Center Lapa e, nos dias em que não tinha trabalho, saindo cedo para caminhar no Dique. Era tudo. Meu trabalho, vocês sabem... Quem leu os contos do Gallo já me conhece. Eu mato. Sou pago para matar. Gente rica, e até gente pobre, me contrata com frequência. Mas também já matei para fazer cumprir a justiça. Instinto de nobreza, uma coisa assim do Zorro, que não faz de ninguém um sujeito melhor nem pior ― muito menos eu ― e que, sobretudo, não nos salva do injustificável: o fim do túnel lá adiante e o salto, afinal, no abismo. (continua)

Conto incorporado ao volume inédito O próximo herói.

sábado, 12 de outubro de 2013

LEITURAS, 35: MATÉI VISNIEC

Edição brasileira, 2013.
Há quem arrote a plenos pulmões que não lê peças teatrais. Há quem diga também que o conto é um gênero menor, esquecendo-se de que dois dos maiores escritores de todos os tempos ― Guy de Maupassant e Jorge Luis Borges ― foram principalmente contistas. É, talvez ― mas sem pensar que o autor o fez de propósito, por provocação ―, com esta orientação às avessas que se deve entrar na leitura de Cuidado com as velhinhas carentes e solitárias (Attention aux vieilles dames rongées par la solitude, 2004), de Matéi Visniec. O contemporâneo autor romeno, e que já é um dramaturgo renomado, estabelece em quinze peças curtas, de um só ato, a fusão do dramático com o épico, e mostra o quanto o nosso mundo é estranho e absurdo. Em todos estes contos, narrados através do diálogo ou do monólogo, a intenção é inquietar o leitor e o obrigar a pensar. Se um homem não consegue deixar uma estação de trem, há alguma coisa errada, ou com ele ou com a realidade. E se uma garota e um cara pedem carona numa estrada, cada um por sua vez, e quando se falam é somente em vista de uma trepada, há alguma coisa que merece reflexão. Uma mulher grávida que se refugia no deserto; outra que não admite, na cama, que seu amante, após o ato, acenda um cigarro; uma garçonete que conhece mais o cliente que ele mesmo; um homem à procura de um lugar livre onde ser enterrado depois de morrer... Estas são algumas das histórias “cotidianas” de Matéi Visniec. Quem não foge ao diálogo e aprecia um monólogo não deve perder de se enriquecer com elas.

Também publicado na Verbo 21.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

LEITURAS, 34: MARCELINO PEDREGULHO

Cosac Naify, 2009.
Neste livro, o francês Sempé ― para muitos um simples cartunista e para outros um gênio ― reúne seu desenho personalíssimo à capacidade de narrar com desenvoltura e nos conta a história de dois amigos, René, que espirra o tempo todo, sem motivo de doença, e Marcelino, que o tempo todo fica vermelho, também sem motivo algum. Com suas diferenças e suas idiossincrasias, eles enfrentam o mundo, crescem, se formam, ingressam no mercado adulto das responsabilidades, mas não deixam de ser o que são: um sujeito que espirra sem motivo, e outro que se ruboriza por nada. Ou seja, a vida em sociedade, apesar de tudo, não foi capaz de alterá-los. Aparentemente uma história para crianças, Marcelino Pedregulho (Marcellin Caillou, 1969) é, no entanto, uma alegoria da condição humana, um apólogo do inesperado na vida de todos nós e, claro, o que de melhor podemos fazer, se não conseguimos evita-lo.

Também publicado na Verbo 21.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CONTOS PARA MEIA-NOITE

No filme Como roubar um milhão de dólares (How to steal a million, 1966), de William Wyler, a personagem Nicole, interpretada pela sempre sensacional Audrey Hepburn, aparece na cama, sozinha, tarde da noite, lendo uma coletânea de contos de suspense, quando, de repente, lá embaixo, na sala às escuras, ouve-se um barulho... Consequentemente, e por efeito do livro que lê, ela sente medo e arregala os olhos. Foi pensando em leitores como ela, ávidos pela sensação de pavor, que Dhan Ribeiro, editor da Kalango, lançou recentemente um concurso para escolher algumas boas histórias de suspense de autores brasileiros, com o projeto Contos para meia-noite. Os interessados em concorrer, devem acessar o regulamento no site da editora e inscrever seu trabalho. O prazo se esgota em 5 de dezembro de 2013. Ou seja, você ainda tem tempo de escrever sua história.