"Quando acaba a guerra? A província de Orléanais foi ocupada pelos celtas, pelos germanos, pelos romanos e seus doze deuses durante cinco séculos, pelos vândalos, pelos alanos, pelos francos, pelos normandos, pelos ingleses, pelos alemães e pelos americanos. No olhar da mulher, nos punhos que os irmãos levantam um contra o outro, na voz do pai que ralha, em cada um dos laços sociais, alguma coisa do inimigo sempre se conserva. Alguma coisa quer segurar. Alguma coisa quer matar. A finalidade de nossos esforços não é sermos felizes, envelhecer ao abrigo do frio, morrer sem dor. A finalidade de nossos esforços é chegarmos vivos até a noite."
QUIGNARD, Pascal. A ocupação americana. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. Tradução de Rubens Figueiredo. 128p.
ESTILO. A guerra repetitiva, a misturar os povos. A vida, renovada a cada guerra. Os costumes que ficam, os sestros que se perpetuam e passam de uma cultura a outra, de um povo a outro, deixando evidente que não há povo ou raça puros, nem cultura ensimesmada, sem influência de outra. O dinamismo da vida é o dinamismo da guerra. Por fim, a questão da busca da felicidade, revista por um narrador que acredita não ser este o propósito, mas sobreviver, ganhar o dia. As primeiras contundentes linhas de um romance breve, já uma obra-prima da literatura francesa.
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